23 abril 2006

Aí estão os dois amigos, Rui Barros e Roberto Gianoni, responsáveis por aquele momento bom no Ayala's bar.




Meu poema antigo
(Luiz Mauro)


Soubesse eu, escreveria um dia
Lembrando coisas, um poema antigo
Desses que a gente fala de cidades,
Da natureza, de um amor, do mar
Diria eu por certo, a todo mundo
Caso soubesse ... de um viver passado
Cheio de glórias ou quem sabe angústias
Mas seria lindo meu poema antigo
Soubesse eu, escreveria um dia
Lembranças puras de uma velha casa
Que, de tão ida por bons tempos, findos
Estampava em si um resto de saudade
Meu pai brincava, fazendo brinquedos
Minha mãe cantava sempre o ‘’ Farolito ‘’
Que pretensão, fazer um poema antigo
Isso faz tão pouco... a vida nem passou...
Ainda ouço o som de um violino
Num fim-de-tarde, quase anoitecer
Meu pai tocando e eu, pequeno, ouvindo
A nitidez das notas arranhadas
Ah ! ... se eu soubesse, escreveria um dia
Sobre esta infância que trago comigo
Sou tão criança ao lado de meu filho
Que crescemos juntos nossa vida nova
Pudesse eu, escreveria um dia
Sem as lembranças de uma infância pobre
Sem a casa velha dos bons tempos, findos
E sem saudade ... meu poema antigo.


=> Public. no Correio do Povo / Bric-à-Brac da vida / 13.Jan.1976

21 abril 2006

Tenho uma afilhada, chamada Terezinha. Desde tenra idade ela morou com a gente (meus pais, minha irmã e eu, na rua Souza Reis). Eu, que sempre andava com o violão na mão, ensinei a ela uma música do Dorival Caymmi (Quando a gente é pequeninho ouve quadras a brincar, quando a gente fica grande ouve quadras a chorar. Como comove a lembrança de um tempo feliz, quando ouvimor cantar ... roda pião, bambeia o pião. O pião entrou na roda pião ...) – Era doce, ver aquele pedacinho de gente dançando, com o vestidinho seguro pelas pontas e cantando esta música. – Eu sempre via na Terezinha uma menina tristinha, com saudades da mãe, que não via todos os dias. Certa vez fiz uns versinhos e musiquei, pra ela ... - Diria que esta música está entre as minhas primeiras composições.
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Canta menina triste
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Canta menina triste
Tua tristeza já vai passar
Canta menina triste
Que a mamãezinha já vai chegar
Sei que a saudade é ruim
Gente grande faz chorar
Mas tu não é gente grande
Vai cantando sem parar
Canta menina triste
Tua tristeza já vai passar
Canta menina triste
Que a mamãezinha já vai chegar
Canta, canta, canta
Vai cantando sem parar
Pois quando a gente é grande
Ouve quadras a chorar
Canta menina triste
Tua tristeza já vai passar
Canta menina triste
Que a mamãezinha já vai chegar

16 abril 2006



Minha intenção, criando este blog, não é outra senão a de mostrar e contar sobre um dos meus lazeres favoritos, que é a música. Embora de forma não muito ordenada, são muitas as lembranças que tenho, dos bons momentos vividos no meio musical da minha cidade, Porto Alegre. Pretendo colocá-los aqui, conforme minha memória os trouxer. Depois pretendo mostrar também alguns dos meus trabalhos de desenho e pintura, outro lazer que me agrada muito. Ah, já ia esquecendo ... algumas poesias também. Seja como for, espero que o que estiver sendo contado e mostrado aqui, seja do agrado de todos aqueles que me honrarem com sua visita. - Luiz Mauro
Os encontros semanais na casa da Elis ocorreram mais algumas vezes, até o dia da viagem para São Paulo, onde aconteceria a gravação do LP. Não havia ainda nenhuma informação sobre quais as músicas que iriam compor o disco. Mais alguns dias e recebi de minha mãe o recado para ir até a casa da Elis, que já estava de volta. Chegando lá, dona Ercy abriu a porta e gritou: - Elis, chegou o "Principal". – Em seguida apareceu a Elis, que durante um abraço me contou que havia gravado duas das minhas músicas (Mania de gostar e Sem teu amor). Foi mais um momento de grande alegria. (veja abaixo, as letras)

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Mania de gostar .............. (ouvir)
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Mania boba é esta da gente
De gostar de alguém
Alguém que nos faz
um pouquinho feliz, quando vem
Alguém que quando vai
Não diz pra onde, nem porque
Parte deixando saudade
Fazendo a gente sofrer
Não vai outra vez, meu amor,
Não vai pra longe de mim
Esse negócio de saudade
Não foi feito pra mim
Com você aqui, bem perto,
Juntinho do meu coração
Não viverei mais Nesta solidão (download)
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Sem teu amor ..............(ouvir)
Meu coração
Não pode mais viver assim
Sem teu amor
Meu coração
Vive chorando, triste assim,
Sem teu amor
Tudo acabou, fiquei sozinho
Sem teu querer
Tudo mudou e sem carinho
Não sei viver
Meu coração
Hoje só vive de ansiedade
Por você
Espero em vão
O fim de toda esta saudade
De você
Vou esperar, minha querida
Volte por favor
Meu coração
Não vai viver toda esta vida
Sem teu amor

15 abril 2006


Dia da tal "gravação do tape". Já combinado, quase meia-noite, passei na casa da Elis e fomos para a TV Gaúcha, no morro de Santa Tereza, ela, sua mãe e eu. Meu Deus do céu, quanta novidade. Andamos por corredores e labirintos que não tinham fim, até chegarmos a uma porta enorme, com visores. Era o "Stúdio 1". Abre-se a porta, escuto o som de piano, baixo, bateria e guitarra. Quando a música terminou: - Pessoal, este é o Luiz Mauro !, disse a Elis. - Diante de mim, o Mutinho (baterista que conheci na casa dela), Adão Pinheiro (piano), Ciganinho (guitarra) e o Sadi (baixo). Juntos formavam o "Conjunto Flamboyan". Pra meu maior espanto, me levaram até uma saleta com espelhos, onde um camarada (pena não lembrar seu nome) me passou creme no rosto, pra evitar brilhos durante a gravação. De volta ao stúdio, sentei ao lado de um moço, num "praticável". Depois de revelar a ele sobre meu estado nervoso, perguntei sobre as pessoas que estavam por ali. O apresentador Sérgio Reis, a apresentadora Marilice Leopar, o cantor Edgar Pozzer, o cantor Guilherme Braga, a cantora Érica Norimar, este moço que estava ao meu lado, compositor e cantor Luiz Henrique, que na época, fez sucesso com a música "Se amor é isso", gravada pelo conjunto melódico de Norberto Baldauf. Uma campainha, uma voz gritando "Silêncio no stúdio !", "Gravando !". Os apresentadores foram chamando os cantores até que chegou a minha vez. Meu Deus, como eu tremia. - Sérgio Reis, com o meu violão nas mãos, sentado num banquinho alto, esboça um acorde qualquer, dá um sorriso e diz: - Não, senhoras e senhores. Este violão não é meu. Pertence a um jovem cantor e compositor, que veio até nós, trazido pelas mãos de Elis Regina. Seu nome: LUIZ MAURO ! - Pára tudo, ele me devolve o violão e EU sento no banquinho (tremendo, é claro). "Gravando !" ... e cantei uma das minhas composições. Depois disso é feita uma montagem, uma superposição de imagens e no domingo, lá estava eu na casa de um vizinho (a gente não tinha televisão ainda), assistindo ao programa "Sempre aos domingos", na TV Gaúcha. Me confesso emocionado, ao digitar este texto. - Foi mais ou menos assim, que passei a fazer parte deste mundo maravilhoso da música, que tanta coisa boa me trouxe.

14 abril 2006

Por volta de 1966, fui procurado por um moço, que morava próximo da minha casa. Disse-me que sabia que eu tinha algumas composições, que também fazia músicas, que conhecia a Elis Regina, que soube que ela pretendia gravar um LP somente com autores Gaúchos e se ofereceu para me apresentar a ela. eu mostraria as minhas músicas e ele mostraria as suas. Aquilo me assustou um pouco, mas ... não tinha como recusar. Poucos dias depois este moço me levou até a Rádio Gaúcha, no Edifício União, onde fui apresentado a ela, como compositor. Foi marcada uma noite pra gente se encontrar, em sua residência, na Vila do IAPI. No dia marcado, fui até lá e, pra minha surpresa, o tal moço não apareceu. Fiquei sozinho, tremendo feito vara verde, quando ela me pediu pra cantar alguma coisa minha. Quando acabei de cantar a primeira música, ela, com a cabeça apoiada entre as mãos, visivelmente emocionada, gritou: - Onde é que tu tava rapaz ?! – Claro que fiquei satisfeito com aquela exclamação, mas também muito mais assustado. Na mesma hora, ela marcou novo encontro na próxima semana. Quando cheguei lá ela foi logo dizendo: - Olha, vem uns caras aqui, que querem te conhecer. Um pouco mais e os caras foram chegando. Tulio Piva, Mutinho, Francisco Carlos (master da TV Gaúcha). – Depois de eu cantar algumas das minhas composições, o Francisco Carlos perguntou: - Luiz Mauro, vamos gravar um tape ? (que será isto, perguntei aos meus botões), mas respondi que SIM. Lembro da Elis erguendo os braços num "Viva, ele aceitou !!!"
Ainda na fase inicial do violão na minha vida, quando ficava tocando com os amigos até altas horas, sentado na frente da casa, certa vez um moço que sempre passava por ali parou, pediu pra ouvir uma música, eu cantei. Pediu outra, outra e mais outra. Depois disse: - daqui algum tempo vais estar cantando na Rádio. Ao que respondi que NÃO, que aquilo ali era só de brincadeira. E ele então afirmou: "NÃO VAIS CONSEGUIR ESCAPAR, PODE ACREDITAR !. - Este moço se tornou um grande amigo, que há muito não vejo mas que nunca foi esquecido. Sergio Latuada, filho da dona Norma, irmão do João e do Aramis (que mais tarde foi meu aluno de violão).
Hoje cedo conversei com o Glênio Reis (rico amigo, que muito me agulhou, pra criar este blog e mostrar alguma coisa do meu lado artístico-musical). Na realidade, tudo começou quando o Altamiro Borges de Oliveira, grande amigo , me emprestou um violão que havia comprado e que estava parado em cima do seu roupeiro. Nascia alí a minha grande paixão pelo instrumento (o Altamiro nem sonha que foi ELE o causador de tudo isto (saudade de ti, che...). - Continuando ... contei ao Glênio uma passagem bonita, que aconteceu na ISAEC, em 19??, com o Nelson Silva, compositor do "Celeiro de azes" (hino do Internacional). Falava pro Nelson, na época, de como havia sido meu início no aprendizado do violão. José Antonio Bergmüller, que integrou o "Conjunto Quitandinha", foi o cara através do qual tive os primeiros contatos com o instrumento. Amigo de muita importância nesta minha estrada, por ter me passado os primeiros acordes e me aconselhado a comprar um método de violão. Isto foi por volta de 1959. Mostrei ao Nelson o único verso que sabia, de uma música que ouvi pelo Zé Antonio e gostei muito. "amor, amor, amor ... nunca mais amor, amor, amor ...". Ao me ouvir cantar, Nelson, com lágrimas nos olhos e a voz embargada, disse: - ah, Luiz Mauro ... que bonito isto, esta música é minha.
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Olhem só: (23/07/2008) - Acabo de falar pelo telefone, com a Maria Helena Andrade, cantora de primeiríssima grandeza, que gravou esta música do Nelson Silva que acabo de comentar. Gente, pena não poder gravar e depois mostrar à vocês, o carinho que recebi neste telefonema. Coisa muito séria a simpatia e cordialidade desta amiga. Ela não só cantou a música inteirinha, com a qualidade e interpretação de sempre, como também me deu a letra. Prometeu tentar conseguir a gravação. Caso isto aconteça, claro, postarei aqui.
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Amor nunca mais
(Nelson Silva)

Amor, amor, amor
Nunca mais amor, amor , amor
Já sofri demais
Fiz poemas
Cantei madrigais
Ao bem querer que perdi e o amor
Pelo amor eu sofri
Quanta dor
Amor, amor
Nunca mais amor,
Voltarei atrás
Venho de uma família humilde, onde os tios, irmãos da minha mãe, eram todos boêmios. Desde menino, privei com instrumentos musicais que haviam na casa de meu avô, que pertenciam a estes tios. Quando alguém perguntava o que eu gostaria de ser quando crescesse, minha resposta era imediata: - Quero ser FARRISTA. E ficava brabo quando diziam que farrista não era o melhor caminho a ser tomado. Insistia: - Quero ser FARRISTA e pronto.